Antonio Carlos Pedroso de Siqueira

Página Pessoal

 

 

HOME

 

ARTIGOS

 

SERVIÇOS

 

NEWS

 

CONTATOS

 

 

 

 

NetLegis

Revista Contábil e Jurídica

 

Tributário.Net

 

Guia dos Contadores

 

Ambiente Brasil

 

 Meu Blog:

O Outro Lado das Notícias

 

 

 

A TEORIA DAS RESTRIÇÕES E A RECEITA DA VOVÓ

Por Antonio Carlos Pedroso de Siqueira (abril/97)
Sócio de IBEF-PR e da Moore Stephens

 

        A Seccional Paraná, do IBEF, trouxe o Professor Reinaldo Guerreiro, Mestre, Doutor e Livre-Docente em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP, para proferir palestra sobre “A Teoria das Restrições e a Contabilidade Gerencial”, onde foram abordadas as questões mais polêmicas entre aquela teoria e a contabilidade tradicional. Os comentários aqui citados estão contidos, de certa forma, no livro “A Meta da Empresa” - GUERREIRO, Reinaldo - Ed. Atlas 1996.

 

        De uma forma bastante objetiva o Professor conseguiu explanar a origem e expressar os pontos básicos da TOC (Theory of Constraints), desenvolvida pelo físico israelense Eliyahu M. Goldratt na segunda metade dos anos 80. De modo claro foi sendo traçado um paralelo desses postulados com a Contabilidade Tradicional e os principais efeitos ocasionados na adoção de cada método.

 

        Sua denominação - Teoria das Restrições - teve origem no postulado de que toda empresa sempre tem alguma restrição para atingir sua meta (definida como ganhar mais dinheiro). Essa restrição, que pode ser física ou de normas políticas impostas, pode ser traduzida como os gargalos existentes, definidos como qualquer coisa que limite o alcance dos objetivos da empresa. Os conceitos advém da percepção de uma série de descobertas feitas pelo seu autor, onde os problemas e as suas respectivas soluções estavam embasados em princípios específicos. E que estes eram lógicos e quase óbvios, embora o pensamento tradicional os ignorasse. Goldratt baseou-se na formalização de uma série desses princípios para construir o pensamento OPT - Optimized Production Technology, o qual, ampliado daria origem à TOC.

 

        Sem dúvida, há um grande mérito nas idéias contidas na teoria. Ela simplifica de forma fantástica as maneiras utilizadas na medição de resultados e faz com que seja permanentemente revisado se as estratégias adotadas irão, efetivamente, contribuir para o atingimento da meta.  Impede que, por exemplo, haja desvio da meta da empresa no cumprimento ou atendimento de postulados clássicos da gestão industrial.

 

        Um exemplo, que clarifica esse ponto, pode ser definido com o seguinte princípio da TOC: “ativação e utilização de recursos não são sinônimos”. O sistema de gestão tradicional entende que os custos aumentam quando todos os recursos de uma unidade não estejam operando ao tempo, ou seja: utilização igual ativação. A TOC entende que a utilização de um recurso não-gargalo é determinado pelo potencial de um recurso gargalo e não pelo seu próprio.

 

        A aplicação de soluções simples, de certo modo até singelas, não convencionais, mas extremamente lógicas e coerentes com o nosso pensamento organizacional mais primitivo, livre dos conceitos impostos pelas normas tradicionais, é que faz o encantamento desse novo contexto que, juntamente aos conceitos de “JIT - Just in Time” e “TQM - Total Quality Management”, caracterizam-se como as filosofias de gerenciamento global. Segundo Goldratt: “A Teoria das Restrições (TOC) é insistente no seguinte: a otimização local não garante a otimização total. O Gerenciamento da Qualidade Total (TQM) lembra-nos que não é suficiente fazer certo as coisas; o mais importante é fazer as coisas certas. E o Just in Time (JIT) coloca a sua bandeira: não faça o que não é necessário.”

 

        A crítica feita aos conceitos contábeis tradicionais, entretanto, entendo que está baseado no fato de que Goldratt considerou, na formulação de suas medidas financeiras os princípios da contabilidade mais rudimentar, ou seja, norteou-os pelo princípio de caixa e inventários de bens, não se preocupando com todos os demais. É como se considerasse a contabilidade como deve ter sido a sistemática utilizada pelos fenícios quando descobriram a escrita há alguns milênios atrás. Por isso, acredito, ela nos parece extremamente válida, e seus resultados tão surpreendentes. O problema dos relatórios gerenciais elaborados pela contabilidade moderna, concordo, está baseado em sua dogmatização de princípios, estabelecida, em parte, pelos próprios engenheiros e dirigentes de fábricas e gerentes de produção. Na realidade, essas teorias que surgiram a partir da década de 60, se parecem com a Receita de Assado da Vovó, cuja história é mais ou menos a seguinte:

 

        “Todos os integrantes da família sabiam o que significava serem convidados a passarem um domingo e a degustarem um almoço na Casa da Vovó; significava, simplesmente, a possibilidade de rever todos os primos, tios e tias, muitas brincadeiras, mas, principalmente, saborear o delicioso assado que ela preparava nessas ocasiões. Ela fazia um lombo assado que era, simplesmente, divino!”

 

        Certa ocasião, quando todos falavam da excelência do assado, começaram a conjecturar quais as razões para o sabor tão inigualável. A filha mais velha de Vovó dizia, com certa propriedade, que - ‘... o sabor do assado consistia na forma como o lombo era cortado, em pedaços que deveriam ter, no máximo, 25 centímetros! Essa era a verdadeira razão e o segredo!’

 

        Ora, com tantas teorias colocadas e com um postulado tão estranho (o tamanho de cada peça) resolveram indagar a Vovó, nos seguintes termos: - ‘Vovó, por quê o assado preparado pela senhora é cortado, sempre em pedaços de no máximo 25 centímetros?’; - ‘Ora, isso é muito simples! Aprendi com minha mãe, que aprendeu com a mãe dela! Essa é a forma correta para que o lombo assado fique, sempre, muito saboroso!’

 

        Foram, então, perguntar à bisavó, que também morava com a vovó: ‘Bisa, diga-nos, qual a razão para que o assado preparado pela senhora, e aprendido com sua mãe, tenha que ser cortado em pedaços de no máximo 25 centímetros?’

Ajeitando seus óculos, para melhor olhar aquele que seria seu neto ou bisneto, declarou, simplesmente: -’Ora, por quê? Porque se cortássemos o lombo em pedaços maiores eles não entrariam no “forninho” que tínhamos na casa de Mamãe!’”

 

        Acredito, como já disse anteriormente, que nada há de novo sob o sol que seja novidade.  Ou é um mesmo e tradicional processo, que sempre existiu, e que passou a ser realizado com a aplicação das novas tecnologias disponíveis, ou o tempo pelo qual esse processo deixou de ser adotado foi suficiente para, em sua reaplicação, sob outro nome qualquer, ter a aparência de novo e revolucionário, ser a panacéia, e seu descobridor um verdadeiro gênio.

 

 

Rua Fernandes de Barros, 1646 - Hugo Lange

80040-200 - Curitiba - Paraná

Fone: +55 41 3254-8337 Fax: +55 41 3254-4618

siqueira@milenio.com.br